200 Pessoas, 11 Metros e 10 Toneladas: A incrível operação de resgate da jubarte em Ubatuba

Em 3 de novembro de 2000, uma baleia‐jubarte juvenil encalhou na Praia do Bonete, em Ubatuba (SP). O animal media cerca de 11 metros e pesava aproximadamente 10 toneladas – uma característica comum em indivíduos jovens e aparentemente saudáveis. Após cerca de 7 horas de operação intensa, equipes locais conseguiram devolvê-la ao mar.
A coordenação do resgate ficou a cargo do oceanógrafo Hugo Gallo Neto, fundador e diretor do Aquário de Ubatuba. À frente da ação desde os primeiros momentos, Gallo liderou a articulação entre as instituições envolvidas e o planejamento técnico do resgate, a operação mobilizou quase 200 pessoas, entre biólogos, bombeiros, moradores, policiais florestais, Instituto Argonauta e especialistas do Projeto TAMAR. A complexa logística incluiu o uso de um barco rebocador para auxiliar na retirada do animal da faixa de areia.
Hugo, conta como foi o resgate, “Estávamos na Praia do Bonete, um local de difícil acesso que só se chega de trilha ou de barco. O animal tinha encalhado de madrugada e nós chegamos às 10 horas da manhã para começar a agir. No horário previsto do enchimento da maré, às 17h, conseguimos que a baleia flutuasse. Quando ela percebeu que estava boiando, fez força e conseguiu voltar ao mar. Foram sete horas de trabalhos, em que várias instituições participaram e no final quase 200 pessoas acompanharam de perto o resgate. Ficamos muito felizes de receber a notícia de que o nosso esforço não foi em vão”, lembra ele. O sucesso da operação foi um marco não só para a cidade de Ubatuba, mas também para a história da conservação marinha no Brasil.
Em novembro de 2008, pesquisadores do Instituto Baleia Jubarte (IBJ) avistaram uma jubarte no Arquipélago de Abrolhos (BA) e coletaram amostras de sua pele para estudo genético. Após dois anos de análises, o IBJ concluiu que era exatamente o mesmo indivíduo resgatado em Ubatuba em 2000. Foi a primeira vez no Brasil que um resgate de cetáceo teve sua sobrevivência confirmada por exame genético. A baleia, um macho, foi fotografada em um “grupo competitivo” de machos disputando acasalamento na Bahia, indicando que voltou a desempenhar plenamente suas funções biológicas.
Para Hugo Gallo e sua equipe, a confirmação genética foi um prêmio: “a nadadeira caudal da baleia é uma impressão digital. Não existem duas iguais”, explicou.
As baleias, símbolos de imponência e beleza, desempenham papel ecológico fundamental ao transportar nutrientes essenciais e promover a biodiversidade marinha, de modo que cada resgate gera impacto positivo na conservação marinha. Além disso, os dados coletados, de foto-identificação a amostras genéticas, alimentam pesquisas que aprimoram protocolos e ampliam nosso conhecimento sobre padrões migratórios e saúde populacional. Assim, mesmo diante de dificuldades logísticas extremas e baixas chances de sucesso, cada vida salva renova a esperança de um futuro em que a dedicação humana transforma desafios em conquistas para o oceano, beneficiando toda a biodiversidade marinha e provando que cada sacrifício valeu a pena.
Confira abaixo um trecho da reportagem exibida no programa Fantástico da Rede Globo em 2000 sobre o resgate da baleia em Ubatuba.